Ariane Nascimento Silva, Psicóloga Clínica

Um ensaio pessoal sobre cor e a socialização binária de gênero.

A frase “encoraja a experimentação e a autoexpressão”, poderia ser uma citação sobre psicoterapia.

Mas, na verdade, é um recorte da declaração da Pantone sobre a cor de 2023: o Viva Magenta.

Viva Magenta é uma cor intensa, mais fechada, “menos iluminada” — um tom entre o vermelho e o rosa escuro, vibrante e ao mesmo tempo profundo.

E por que estou falando disso?

Porque lembrei da minha relação com algumas cores.

Junto à socialização [cis]feminina, veio também meu interesse por tons de rosa — sobretudo os rosas escuros (💖 azaleia, carmim, etc. 💖).

Desde criança, os azuis em todos os tons, os vermelhos e os rosas escuros me chamavam atenção.

Em determinado momento, “aprendi” que só gostava de rosa por causa da socialização [cis]feminina. E, com isso, passei a me distanciar dessas cores.

Mesmo depois de ter lido A Psicologia das Cores, de Eva Heller, e saber que, [euro]historicamente, o rosa já foi considerado uma cor [cis]masculina, eu percebia que essa não era a forma como a sociedade brasileira o enxergava.

E eu, sinceramente, não queria “pagar de Barbie” — ignorando, inclusive, que a racialização, entre outras normas, nunca me permitiu ser uma.

Felizmente, essa pira durou pouco.

Em 2020, o rosa voltou a fazer parte do meu guarda-roupa — não como um retorno, mas como uma escolha livre.

E percebo que essa reaproximação coincide com o início de um processo mais intencional de leituras, práticas e exercícios anti/contracoloniais.

Este relato é até tosco, diante dos impactos devastadores das violências coloniais.

Mas ele também revela algo importante: o controle cis-binário, euroestadunidense e monocultural sobre o nosso imaginário — inclusive por parte de movimentos que se dizem contrários ao patriarcado.

No fim, tal como no início:

O rosa claro não é uma cor [cis]feminina.

O rosa escuro não é uma cor [cis]masculina.

O rosa é apenas uma entre as múltiplas possibilidades de percepção visual.

Ele não se restringe aos desígnios dos — auto-declarados — humanos.

Inclusive, o céu também é rosa!

Que a gente siga encorajades a se experimentar e se expressar, alinhades aos nossos interesses,  sem romper com fluxos desejantes, sem sucumbir às lógicas de dominação e determinação que tentam nos capturar.

Com carinho e cuidado,

Ariane Nascimento Silva
Psicóloga Clínica · CRP 06/158452

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